Há algo nas brechas deixadas pelos trabalhos de arte, braços que são capazes de articular as perspectivas epistemológicas. Há um jeito de desenhar que admite as brechas, as falhas e as entrelinhas tão quanto a grafia de um entorno e as agencia à sua própria maneira. Quando há a liberdade de se ensaiar as formas e os destinos, quando as lacunas deixadas em uma ficção são a remissão do serviço de provar a existência das coisas, tais lacunas podem ser livremente apenas lacunas e esvaziarem-se para que outras percepções preencham o espaço que elas deixam. A repetição de sinais pode estar presente como pequenos grafismos no corpo de um trabalho, notícias que escondem o início do seu surgimento e apontam para o seu interesse de ocupar outras superfícies, sangrando a moldura, podendo engendrar longas peças a partir da reprodução de sua unidade primária. Perceber que existe um ponto de partida é um modo de imaginar que a proliferação não precisa se encerrar no espaço delimitado pelo trabalho. Em “Antessala”, a pesquisa artística e de linguagem se inicia a partir da combinação numérica que radicaliza a colaboração entre visão e tato, sublinhando a plasticidade e a poética da experiência em um jogo enviesadamente lógico. O cubo mágico pode existir de várias formas diferentes da sua versão “resolvida”, sem precisar se comprometer com o utilitarismo. Nas faces do cubo, números são representados pela contagem numérica de pontos e dessa forma é possível que eles estampem o rigor geométrico de tais sinais no arranjo de um desenho extenso, tornando-o menos exigente.