Uma película opaca pode oferecer poucas alternativas de atravessamento sob a ótica de uma leitura superficial. Quando uma massa de cor não se mistura com a predominância cromática que está ao seu redor, a superfície formada pelo seu plano pode ser a janela para a entrada em um outro ambiente, também pode ser o obstáculo que encerra atrás de si mesmo parte de um universo reservado. A partir de tais observações sobre as habilidades de uma forma opaca, imagino-a em uma relação silogística com o desenho bidimensional, na qual a folha pode ser pensada como espaço vago e a computação gráfica, por exemplo, auxilia nessa versão, à medida que a eletricidade das telas digitais as qualificam como efêmeras. Em tempo, sobre a relação silogística que povoa a prática do desenho aberto para a indeterminação sensível: digamos que se todos os espaços opacos são também espaços vagos, se o desenho desliza por esses espaços e nunca lhes penetra da mesma forma que o procedimento invasivo de uma faca ou uma goiva, então a marcação do desenho também é vaga e aponta a área de trabalho como impermeável, boia na superfície. Mas isso se dá não apenas porque ela não foi bruta o suficiente e sim porque, além disto, os valores semióticos falham para com a alegação da sensibilidade em esquemas acachapantes, que diminuem a sua gravidade (a da sensibilidade). Isso pode ser pensado sobre o peso da palavra na escrita de arte, sobre o peso da palavra ensaiada no papel, no peso da palavra enquanto a consciência imaginada do seu sentido, entre outros. Se, em um ensaio, a palavra desvia das metonímias e fica às voltas com as suas vizinhanças, ela mostra os seus contornos e a sua inteireza enquanto é ciente das cavidades em sua composição que talvez sejam invisíveis a olho nu. Tudo depende das opções de mesclagem com as quais a palavra vai se sobrepor a outras camadas.
De certo modo, o desenho é um caminho rápido para o estatuto da forma. Rápido não é o mesmo que fácil. Rápido pode ser sinônimo de efêmero. Efêmero não é sinônimo de esquecível.